18 de dezembro de 2012

Natal...

Hoje bateu à porta do coração uma breve saudade triste, dos tempos de infância, da árvore de Natal, do presépio, do "sofá" e da lareira.

Estou de férias, estou na minha casa, que é dizer na casa em que cresci...na casa dos meus pais. Sempre que aqui venho o meu coração volta mais pequenino, porque deixo mais um pedaço e desta vez..bem desta vez vai doer mais: um mês de férias, vai ser como ter de partir de novo.
Dei por mim a abrir as malas do enxoval, aquelas arcas de madeira com cheiro a antigo, pelas quais admito: sempre tive grande estima. Sei que na minha idade ninguém dá valor a estas coisas, talvez eu seja uma excepção, ou talvez os outros prefiram esconder que também têm e gostam.
Bateu uma saudade! Aquela que nos leva de volta às casas dos avós: aquelas de chão e tecto de madeira, cheias de malas antigas e com as paredes caiadas. A casa dos meus avós era assim antes de ser remodelada: muito má de limpar, muito ventilada por causa das madeiras que se foram partindo no chão, com o tecto a ameaçar ruir de tanto pender no sitio do candeeiro, com aquela lareira enorme onde se fumavam chouriças e colocavam as arcas de madeira que tinham encosto e faziam de banco ou os banquinhos de madeira. Há memórias que fazem sorrir mas também fazem logo os olhos transbordar, esta é sem duvida uma delas.
Tudo isto é consequência de umas compras, de umas peças de enxoval, da esperança de um dia vir a ter o meu cantinho. Mas no entretanto, só vou enchendo mais a casa dos meus pais, esperando que a esperança me não falhe. E dou por mim a voltar ao passado...
A alegria que era o Natal! Calçar as galochas, pegar nas caixas e ir ao pinhal buscar musgo. Voltar com as unhas pretas e os dedos picados, as calças todas cheias de manchas nos joelhos e a tremer com frio. Mas era tão bom! Ir dar uma caminhada e voltar com um lindo pinheiro natural que a mãe tinha estimado todo o ano nos terrenos dos avós para encher a sala de cor e luz.
Agora perdeu-se quase tudo. É o primeiro Natal sem árvore dentro de casa: decidimos fazer uma árvore só com luzes no exterior. Inventámos um pouco e fizemos um boneco de neve com 200 copos de plástico.
Só que dentro de casa não parece Natal. Falta o cheiro dos madeiros de carvalho por baixo do musgo húmido,  o presépio com o musgo sempre a sujar o chão, a árvore de Natal cintilante e aquele perfume natural que só um pinheiro real consegue emanar. Foi erro meu, para o ano vai haver presépio de novo e árvore de Natal dentro de casa...senão, não é Natal para mim!

11 de setembro de 2012

Eu


São rios de água, de lágrimas vão cheios.
São mares imensos, por prantos causados.
São saudades, de felicidades idas e de amizades longinquas.
São sorrisos, por ténues lembranças provocadas.
São alegrias imensas, pelas surpresas de hoje.
São horas de pânico pelo estado em que um país se encontra.
São tantas emoções, pelo que foi e pelo "como se está".
São tantas preocupações, que os receios permanecem.
São memórias, de quem perdi e de quem me perdeu.
São um tudo e um nada que me compõe.
São apenas o "eu" de cada um num conjunto de sensações.

20 de junho de 2012

Definições


A Felicidade é inconstante. Sempre em fuga,
Meia desaparecida, raramente perdura.

A Saudade é revessa. Esconde-se pelos cantos,
Entranha-se nas memórias, vive de recordações.

A Alegria trepa pela nossa alma, seca lágrimas,
Rebenta em sorrisos e foge sem aviso prévio.

A Tristeza é a maior amiga da Saudade,
Aparece à traição, instala-se no coração, chama a Solidão.

O Medo é o mais traiçoeiro.  Surge de um ruído,
De uma imagem, gera calafrios e pânico. Prende-se à Alma.

A Solidão é o vazio. Geradora de lágrimas, vem do silêncio,
É o nada proveniente da quebra e da perda.

O Sonho é a capacidade de acreditar, a Esperança,
O fechar os olhos e ter a convicção que amanhã será melhor.

A Paixão é imponente. Subita e escaldante, louca,
Sem limites, enlouquece o coração, faz perder o tino à Razão.
 
A Recordação reúne todas estas amigas pela Memória,
Gera um pouco de todas elas, fecha e abre ciclos.

Cada Alma sente de uma forma, vive e aprende à sua maneira.
São vivências,  individuais e únicas, que nos tornam especiais.

4 de junho de 2012

Renovação

Já sorri, já chorei. Já caí e me levantei.
Já ri até me faltar o ar, com uma dor atroz. 
Já chorei até não ter lágrimas, nem voz. 
Já parti o tacão do sapato, senti a magia da noite. 
Cantei, saltei, pulei, subi, desci...Vivi! 

Um dia acreditei que deixei de sonhar. 
Comecei a divagar,que nem barco à deriva no mar. 
Esqueci metas, ilusões, desvaires e sensações. 
Deixei de confiar, de usar a imaginação. 
Desiludi-me com a paixão, desacreditei o amor. 
Para mim a vida deixou de ter razão. 

Sem aviso prévio hoje acordei e relembrei... 
A fantasia, o poder de sonhar, ter algo para acreditar. 
Ao fechar os olhos esta simples alegria sem motivo, 
Nos lábios um tolo sorriso sem explicação. 
E a simplicidade de uma ténue sensação, 
Simples certeza aliás: não deixei de sonhar, não.

28 de março de 2012

Pele


Oscila e treme ao toque do vento.
Suave, ondulante, perdida.
Alma sem norte, corpo sem destino,
Coração sem rumo, sonho vagabundo.

Parece que estou sozinha, mas estou só,
Apenas acompanho estes passos leves,
A sorrir para mim, para a infinidade do tudo
Para o vazio do nada.
Em frente um abismo, atrás um vazio sem nexo.

Continuo a sonhar a cores, a fazer o que devo.
E nada disto faz de mim um exemplo.
Não sou essa heroína que vês no escuro brilho da noite
Ou esse anjo com passo forte, essa guerreira destemida,
Sou apenas eu...Eu que debaixo desta pele
Não sou mais que pequena, fraca e sonhadora.

Todos estes pensamentos estão debaixo da minha pele,
Roem vorazmente, corroem a cada passo dado,
Consomem-me sem dó, culpa ou piedade.
São meus e são eu, fazem este simples nós
Que existe para os olhos teus.

16 de fevereiro de 2012

Divagando


Sentada na areia
Deixo minha mente divagar
Perco-me em sonhos
De que não quero acordar.

Esta brisa fria que me faz gelar
Não me deixa perder o alento,
Não consegue que deixe de acreditar.

Sinto que a minha vida é um carrossel
Que estou que nem princesa,
numa cama de dossel onde tudo gira,
E tudo volta ao ponto de partida.

O Livro da Vida


No livro da vida, cada página é um dia.

Cada linha tem uma emoção, cada momento uma sensação.

Há sempre uma surpresa à espera, uma possível lágrima a surgir, um sorriso sem motivo a desabrochar.

Neste livro aparecem as mais inesperadas situações, as mais invulgares amizades, as mais insuspeitas contradições.

Uma frase pode conter mil mentiras mas um olhar bem observado pode ter milhares de distintas emoções.

Este é o livro mais fascinante de todos e do qual ninguém escapa nem imune, nem impune.

É a prova de que vivemos a vida, mesmo quando achamos que ela nos passa ao lado e em simultâneo é o livro que ninguém vai ler.

Para além de ser o único livro que jamais se consegue abrir é também só meu ou só teu, pois por muito que faças parte dele a história que no teu livro está escrita jamais vai ser igual à do meu...